terça-feira, 18 de maio de 2010

Microfísica do Poder: Cap. IX - Poder - Corpo

GEF/UEM – Grupo de Estudos Foucaultianos da UEM
Orientação: Prof. Dr. Pedro Navarro
Organização: Adriana Beloti
Discussões realizadas em: 24/03/2010.

Cap. IX: PODER – CORPO[1]

Neste capítulo, Foucault discorre sobre o poder, reafirmando sua concepção de poder: positivo, produtivo, que produz saberes, que é material e que se exerce; uma prática social que é constituída historicamente. Nesse sentido, toma o corpo como objeto de análise em relação ao poder.
Questionado sobre o sistema político descrito em Vigiar e Punir, Foucault (2007) pondera que o corpo, em determinados momentos e sociedades, tem um poder real e essencial: “Numa sociedade como a do século XVII, o corpo do rei não era uma metáfora, mas uma realidade política: sua presença física era necessária ao funcionamento da monarquia” (p. 145), ou seja, o corpo, físico e presente, era um dos mecanismos pelos quais o poder se exercia.
Por outro lado, em relação à república “una e indivisível”, o corpo já não funciona como o corpo do rei na monarquia, pois “não há um corpo da República. Em compensação, é o corpo da sociedade que se torna, no decorrer do século XIX, o novo princípio” (FOUCAULT, 2007, p. 145). De acordo com o filósofo, não há vontades tidas como universais que constituem os corpos da sociedade, “não é o consenso que faz surgir um corpo social, mas a materialidade do poder se exercendo sobre o próprio corpo dos indivíduos” (p. 146).
Foucault, nas discussões sobre o poder e o corpo, se opõe às tendências marxistas e para-marxistas. À primeira, por não delimitar os efeitos do poder ao nível da ideologia, além disso, considera que seria mais materialista estudar sobre o corpo, sobre os efeitos do poder sobre o corpo. Esse posicionamento está articulado a sua própria concepção de poder. À segunda perspectiva, se opõe devido à grande importância e valor dado à noção de repressão. Pois, para ele, “se o poder só tivesse a função de reprimir, se agisse apenas por meio da censura, da exclusão, do impedimento, do recalcamento, à maneira de um grande super-ego, se apenas se exercesse de um modo negativo, ele seria muito frágil. Se ele é forte, é porque produz efeitos positivos a nível do desejo – como se começa a conhecer – e também a nível do saber. O poder, longe de impedir o saber, o produz” (FOUCAULT, 2007, p. 148).
Em suas reflexões, Michel Foucault observa, ainda, a psicanálise e sua relação poder-corpo. Para ele, a “psicanálise desempenhou um papel liberador e em certos países ainda desempenhava um papel político positivo de denúncia da cumplicidade entre os psiquiatras e o poder” (FOUCAULT, 2007, p. 150). Por suas atuações, essa disciplina se caracteriza, ainda, pelo controle, pela normalização e pela disciplinarização, estabelecendo uma constante relação entre o corpo e o poder, sendo que esse se exerce, também, por aquele e o domina.
Por fim, tomando como norte o papel do intelectual, que para Foucault não deve ultrapassar o fornecimento de instrumentos para análise e nunca ser aquele que diz o que deve ser feito, esse filósofo ainda pondera sobre o complexo conjunto que coordena o poder do corpo, analisando, por exemplo, como as atividades filantrópicas e sociais e, depois, a medicina se marcam como mecanismo de controle dos corpos da sociedade. Segundo Foucault (2007, p. 152), “o interessante não é ver que projeto está na base de tudo isto, mas em termos de estratégia, como as peças foram dispostas”. Portanto, um dos princípios é analisar como o poder é exercido, como os micro-poderes se exercem nos/pelos corpos sociais.

[1] FOUCAUTL, M. Microfísica do poder. Tradução Roberto Machado. 24. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2007. p. 145 – 152.

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